quarta-feira, 7 de julho de 2010

Estrela do Norte

Era sempre um prazer presenciar àquele velho senhor passar. Era um senhor daqueles bem velhinho, velhinho mesmo, caindo aos pedaços (como o povo diz), branquelo e curvado, caminhava lento e com auxilio de uma bengala.
Certa vez, na quitanda do seu Jota, aproveitando-se de uma reunião informal, onde havia dez ou mais pessoas – uns conversando assuntos de homens, outros tomavam uma cachacinha entre um cigarrinho e outro – o velhinho pediu a atenção dos presentes e contou uma história de sua adolescência:

“Quando eu completei meus dezessete anos de idade, ganhei do meu pai uma faca, uma bela faca, uma faca mermo porreta; botei o nome dela de “Estrela do Norte. Escutem! Este nome foi dado por causa do brilho, brilhava que era danada, e o brilho se concentrava mais intensamente e bonito na sua ponta. Mas eu, que modéstia parte sempre fui intelgente, vi logo que não era simplesmente um presente de aniversario; meu pai, desconfiado como era, deu essa faca para mim foi porque ele se preocupava com a minha segurança, pois, meus amigos, era perigoso demais o vilarejo onde eu morava, lá pras bandas da região central do maranhão, perto de Barra do Corda. Eita lugarzinho infame. Siô, o que se ouvia de historias de morte não era brincadeira: “Ah, mataram o filho de fulano, deram quinze facadas nele; ah, mataram o dono do comércio, jogaram o corpo dele lá na mata. Graças a Deus eu nunca precisei usar essa ‘belezura’ (mostrando a faca) pra poder me defender, só usava ela quando eu fosse polir, apreciar o brilho... eu mal saía de casa."

Depois da historia contada, a turma que o ouviu batizou o nobre velhinho com um apelido carinhoso: "Estrela do Norte", o mesmo nome que seu pai alcunhara a faca. O apelido foi bem aceito pelo velhinho.

Bastava encontrá-lo outra vez, em qualquer lugar, pra alguém o cumprimentar, chamando-o pelo apelido.

“Estrala do norte!’’– chamava alguém quando o velho passava.

Ele, no mais das vezes, hesitava em procurar a direção da voz, todavia bastava ele por os olhos no seu dono, ou outra pessoa que nada tina a ver (era demasiado debilitado para distinguir a direção dos sons emitidos e ligá-lo ao seu respectivo dono) para curvar os joelhos, apontar a bengala para o céu e aos gritos responder com versos:

“Estrela do norte
Ponta fina e boa de corte
Quem tem medo, não brinca com a sorte
Uma mão acena pra vida
E um olho pisca pra morte”


2 comentários:

Carvalho Junior disse...

Fico feliz em saber que você, meu amigo Roberto, tem sensibilidade para escrever. Minhas visitas ao seu blog serão frequentes e sem hora marcada. Quando quiser visitar-me também as portas da minha poesia estarão abertas. Grande abraço poético

Roberto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.