quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Einstein, ciência e Religião

Einstein foi um símbolo de união entre religião e ciência?


Discutir religião e ciência, – sem que haja polêmica e duelos retóricos entre religiosos e cientistas, – tornou-se uma obra de uma dialética alvoroçada entre os seus respectivos adeptos. Mas isto não é coisa de causar espanto, pois há discórdia até mesmo entre religiosos e religiosos, cientistas e cientistas.

Recentemente, em uma propaganda passada na televisão (foto), lê-se a interrogativa “e se religião e ciência fizessem as pazes?”. “Curiosamente”, ao fundo, enquanto a frase é referida, vê-se a figura simpática do Cientista Albert Einstein. Subtende-se (óbvio) que ele aparece ali como um símbolo de união entre religião e ciência. Soma-se isso com a sua famosa proposição “a religião sem ciência é cega – e a ciência sem religião é paralítica”. Sem se aprofundar sobre tal assunto, o que irá discorrer neste texto está mais para um breve esclarecimento de um fato curioso do que propriamente uma analogia.

Antes de se conjeturar sobre uma junção de religião e ciência, a partir de tal propaganda, é preciso entender bem a religiosidade de Einstein e compará-la outros tipos de religião, visto que a religião do cientista difere em muitos aspectos do cristianismo e de qualquer forma de religião organizada. Deve-se levar em conta que estas religiões tradicionais não podem ser confundidas com a religião citada na frase do cientista, pois suas divergências à ciência nos passam uma idéia ilusória de união.

Einstein era Judeu e na sua infância era bastante religioso no senso comum; mas depois de um tempo, quando teve os primeiros contatos com livros científicos populares, passou a ver que varias histórias da bíblia não poderiam ser verdade, o que lhe rendeu uma efetiva liberdade de pensamento. Foi dessa forma que começou a se interessar em desmistificar a natureza e passou a não mais crer em um Deus imagem e semelhança do homem, que castigava ou recompensava o seu próprio objeto de criação. Ele afirmou, também, que não fazia idéia de um espírito que germinava tais idéias – de castigo e recompensa – que interferisse no destino e nos afazeres da humanidade; que mudasse tudo no mundo – como se fosse em um jogo de dados. “Tal ser, se assim fosse, seria um fraco, medroso e estupidamente egoísta”, disse.

Antes de se tomar uma idéia ateísta de Einstein é preciso esclarecer uma dúvida: sim, Einstein acreditava em Deus. Porém, a idéia que ele tinha sobre este era dessemelhante da opinião das massas, porque estas tinham uma imagem antrofóbica de Deus e se organizavam em igrejas para suplicar perdão pelos pecados e que realizasse seus interesses pessoais. A religião de Einstein consistia em desvendar os mistérios da natureza usando a razão através do método científico, pois só assim ele acreditava poder desvendar a essência dos homens, latentes na natureza. Portanto, a busca por desvendar esses mistérios era a sua verdadeira devoção. Isso ficou evidenciado quando ele falou que “esta é a experiência que constitui a atitude genuinamente religiosa. E neste sentido, somente neste sentido, eu pertenço aos homens profundamente religiosos.”

A evidência de que realmente Einstein acreditava que Deus existia, dava-se por ele ter uma intensa certeza de um poder superior que se revela no universo, algo que não podemos penetrar e o conhecemos e compreendemos apenas em forma elementar. Einstein preservava a essência da espiritualidade humana, a qual se inspira a liberdade para a dedicação ao que existe de mais importante para a humanidade: o mundo em que vivemos e as pessoas com quem dividimos a nossa existência.

Einstein desprezava qualquer tipo de religião organizada porque as considerava autoritária, repressora e enfática nas questões hierarquicas e de poder, e tudo isso seria contraditório a essência da espiritualidade humana.

Por esse motivo, algumas pessoas de sua época entenderam que ele seria um ateu disfarçado em teorias não convincentes sobre Deus. Outros diziam que sua religiosidade se encaixava no panteísmo (onde se acredita que Deus e a natureza são a mesma coisa). Mas, se avaliarmos bem, quando ele falou: “acredito no mesmo deus que Espinosa[1] chamava alma do universo, e não em um Deus que se preocupa com o destino e as necessidades pessoais da humanidade”, nota-se um aproximamento maior com o deísmo, já que acreditava em um Deus criador, mas não pessoal e que não interfere no universo, não está associado ás idéias de pecado e redenção, perdão ou graça.

O pensamento religioso de Einstein – definitivamente – era muito diferente das religiões ligadas ao cristianismo (ou não) que se mantêm de forma organizada. Estas, enfim, vão de encontro ao pensamento cientifico, o qual mostra através de experimentos e pesquisas que algumas histórias da bíblia (como o dilúvio, o caso do mar vermelho, pangéia etc.) não podem ser absolutamente verdade. Contudo, para a ciência, as historias da bíblia não são totalmente descartadas, já que alguns desses fenômenos são “extraordinariamente” mencionados. Porém, as partes que descrevem fenômenos sobrenaturais, são vistas como exageração. Isso se deve porque há evidencias de que existiram realmente alguns fenômenos naturais mencionados na bíblia; todavia, para a ciência, isso deve ser levado em conta como exagero.

Com isso, mostrar a figura simpática de Einstein na propaganda pode ter tido as melhores das intenções; mas tê-lo como símbolo de união entre religião e ciência é, no mínimo, perigoso. Pois a religião de Einstein, explicada no discorrer do texto, difere (e muito) das religiões de uma grande massa; que através de dogmas teológicos opõe-se em vários aspectos ao pensamento científico.

4 comentários:

Samyle Lindsay disse...

Cara, tu tá escrevendo melhor ainda!
E foi muito bom ler esse teu texto porque eu não sabia que Einstein tinha essa relação com religião.
Foi muito bem argumentado :)
Me avisa quando escrever mais.

Beijo ;*
Saudade.

Téo Malvine. disse...

"Querido" não, porque seria tremendamente gay... Caríssimo Roberto, li seu humilde texto explicativo e ele me foi, muito mesmo, esclarecedor... Mas me chama mais atenção a facilidade com a qual tu passa tuas idéias do que a idéia em si. Eu juro que fiquei assustado... Eu mesmo, que não costumo ler textos grandes, li ele com uma facilidade monstruosa, como se eu tivesse lendo um dos meus textos de três ou quatro parágrafos. Meus parabéns, caro amigo.

Samyle Lindsay disse...

Tá vendo? Tô divulgando, meu chapa.
Vou colocar até no MSN =D

Anna Vitória disse...

Ei, bacana demais o texto! Não sabia nada desse lado "religioso" do Einstein e achei bem interessante.
beijos